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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

10% dos agentes se licenciam por problema mental

Neste ano, já pediram afastamento 2.400 dos quase 23 mil funcionários; em 5 anos, foram mais de 17 mil saídas (SÃO PAULO)

Refém em rebelião na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, em junho de 2005, o agente penitenciário J. ouviu a seguinte ameaça de um preso: "Você tem dez minutos para usar meu celular e se despedir de sua família. Avisa que vai morrer." J. disse adeus à mulher e aos filhos. Mas teve a vida poupada. Até hoje, ele está traumatizado e engrossa a lista de 17.050 afastamentos registrados por funcionários do sistema prisional por problemas mentais desde 2003.

O pico - 5.536 agentes afastados - foi registrado em 2006, quando a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) comandou rebeliões em série e aterrorizou a população de São Paulo com a onda de ataque às forças de segurança. Em 2003, foram afastados por transtornos mentais 2.969 funcionários, ante 2.533 em 2004; 3.896 em 2005 e 2.116 no ano passado.

Até junho deste ano, 2.400 agentes, de um total de 23 mil, foram afastados do serviço por problemas de saúde. O número de afastamentos por transtornos mentais no mesmo período ainda não foi concluído. Segundo o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), o governo não oferece tratamento à categoria. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não se manifestou sobre o assunto.

O presidente do Sifuspesp, João Rinaldo Machado, disse que o Estado não tem programa de apoio aos funcionários. "Só passamos por avaliações médica e psicológica quando somos aprovados no concurso. Isso deveria ser feito anualmente. O Estado não encaminha os servidores com problemas para tratamento. Apenas demite."

Já o diretor de Saúde do sindicato, Luís da Silva Filho, afirmou que funcionários criaram um grupo de acolhimento e fazem trabalho voluntário, dando apoio aos servidores. "O grupo atende os funcionários com transtornos, problemas de alcoolismo e dependência química, além de dar apoio a seus familiares", explicou.

O grupo de acolhimento cuida de agentes como Júlio César dos Santos. Em 8 de fevereiro de 2006, ele e outros 31 funcionários foram mantidos reféns por 48 horas em rebelião na Penitenciária de Martinópolis, no Oeste Paulista. Santos teve uma faca encostada no pescoço e foi levado para a caixa d?água.

Os detentos deram socos nos olhos e rosto do agente. Ameaçaram jogá-lo de cabeça para baixo de uma altura de 30 metros se suas reivindicações não fossem atendidas. Santos ficou uma semana afastado do serviço. Os outros 31 reféns passaram por humilhações e terror.

O agente A.G.L.V., de 32 anos, foi obrigado a passar no meio de um corredor formado por presos. Levou pontapés. Depois foi trancado numa cela, onde ficou dois dias sem comer nem beber. Outros reféns foram amarrados em colchões. Os rebelados ameaçaram atear fogo neles caso a Tropa de Choque da PM invadisse a prisão. Outro grupo teve de vestir o uniforme dos presos, para ser confundido com eles e servir de escudo numa possível invasão.

A.G.L.V. ficou um mês afastado, mas por licença-prêmio. Até hoje tem traumas e pesadelos. "Acordo assustado à noite. Aquelas cenas voltam à minha mente.Tenho insônia. Minhas mãos são trêmulas. O Estado nada fez por mim."

O agente J., feito refém e ameaçado de morte na P-1 de Venceslau, também vive com traumas. Ele viu a decapitação de cinco presos. As cabeças dos mortos foram fincadas em bambus pelos rebelados.

Fonte: O Estadão

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