SINASPEN-AL

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sexta-feira, 14 de setembro de 2007

SERÁ QUE ESSAS CONVERSAS ACONTECEM AQUI ????

João de Barros - Alô, oi Jorge.
Não. É o Carlos.
O Jorge não pode atender.
É isso, Carlos. Algum problema?
Não, nenhum problema.
Eu queria saber como é que foi a entrada do choque aí na segunda feira?
Pra gente atualizar o nosso bate papo semanal, não é isso? Então, veja bem.
O Jorge já havia dito pro senhor, é represália, certo?
E sobre o que foi divulgado pela imprensa, a superlotação, o descaso, as barracas, a diretoria do presídio, após uma vistoria da tropa de choque, porque a tropa de choque só faz mesmo a segurança, quem esculacha nossos pertences, recolhe os lençóis, é o corpo de funcionários e a própria diretoria.
Como é que foi na segunda-feira?
Segunda-feira nós ficamos trancado das sete da manhã até as quatro da tarde num galpão, sem alimentação, todo mundo só de calção, descalços.
Enquanto isso a PM ia fazendo o pente fino?
Não exatamente a PM. Como dizia pro senhor, a PM faz somente a escolta, mas na parte do esculacho mesmo, não chega a ser um pente fino, é um esculacho, eles molham nossa roupa, jogam a roupa dentro do (incompreensível) sem contar que eles levaram todos os nossos lençóis em represália ao que foi divulgado pela imprensa, seu João.
Certo. E agora como está a situação de vocês?
A situação melhorou um por cento, mas é praticamente a mesma coisa: cadeia superlotada, descaso, punição, está entendendo? Falta de energia, água constante pra gente continua do mesmo jeito. De uma população de 1170 saíram apenas 85. Dá pra ver que todos continuam quase aqui ainda.
E a questão da água, como vocês fazem pra beber água, enfim, a água que vocês precisam todos os dias?
Veja bem. Tem quatro hidrantes, dois em cada galeria. A gente está usando o hidrante até mesmo pra tomar banho, porque na cela já não tem água, só nos hidrantes mesmo.
Na galeria, uma falta de higiene...
A gente vai até o hidrante com uma garrafa, um topwear mesmo, e pega um pouco de água.
E os dejetos como é que vocês fazem?
Olha, vou falar uma coisa, é muito descaso, um descaso à parte. Antes que eu fale que é muita falta de higiene, mas infelizmente é o único meio de sobrevivência. Tem duas celas, as duas primeiras celas, tanto da primeira galeria, como da Segunda, superior e inferior, estão funcionando como banheiro, como banheiro coletivo.
E o cheiro?
Isso ai é constante, aquele cheiro de urina, muitas vezes de fezes.
E a limpeza, como é feita aí dentro?
De manhã cedo, às seis horas, sete horas, é o horário que a caixa recarregou. Ou eles fazem isso de propósito. Daí libera mais água, onde a gente procura jogar uma água, um balde mesmo, no pátio, nas galerias, pra ver se consegue manter a aparência de higiene porque não tem como.
Uma boa parte de vocês fica acordada enquanto outros dormem, não é isso?
É, porque a gente é obrigado a fazer esse revezamento, porque não tem colchão para todos, não tem espaço para todos. Então, enquanto uns dormem outros ficam acordados. Assim a noite vai passando, o dia passando.
E como vocês matam o tempo aí?
Muitas vezes conversando um com o outro ou andando em volta da quadra.
E não acorda quem está na hora de dormir?
Ah, infelizmente, senhor. É sobrevivência de todos, cada um respeitando seu espaço. Não é porque tem dez, vinte dentro da barraca, que a gente vai deixar de falar ou até mesmo de andar, exercitar, no caso.
Trabalho?
No tem como. Trabalho aqui é coisa que quase não se ouve falar.
E a Pastoral Carcerária, esteve com vocês hoje?
Isso. Inclusive hoje, graças a Deus, o doutor Pedro, o defensor público que entrou com o pedido perante a juíza corregedora de remoção, esteve aqui. Se não me engano o doutor Celso, padre da pastoral também. Apresentamos provas de total descaso, de ameaça de morte constante, inclusive entregamos cartuchos para o doutor Pedro e para o senhor da Pastoral, quer dizer, a gente não está criando um caso aqui, o caso realmente existe e a gente infelizmente esta vivendo essa realidade aqui hoje.
E a direção do presídio, como age?
No meu ver são dois monstros, porque tudo que acontece aqui é com o consentimento deles, acredito que todos, não só eu mas a população mesmo culpamos a diretoria, por descaso, omissão de socorro à vida humana, e várias arbitrariedades, que essa diretoria vem cometendo ao longo desses poucos três ou quatro meses que ela está aqui nessa unidade.
Agora, há alguma previsão para as obras começarem?
Me parece, não é nada oficial, que está para começar, mas alguma coisa de concreto, colocando porta, ou fazendo isso, até agora nada, senhor.
Está certo, então Carlos, agradeço sua entrevista.
Não, não eu que agradeço, satisfação.

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