Recado sangrento

O motim que resultou em execuções sumárias e covardes dentro do “Cadeião”, sábado passado, foi algo muito bem orquestrado. Os seis detentos mortos não faziam parte de nenhuma facção. Um deles era acusado de molestar uma mulher, jurava inocência e antes de ser removido do xadrez da Delegacia de Defesa da Mulher para o presídio, ameaçou se matar, pois afirmava ser vítima de uma calúnia. A remoção aconteceu no dia anterior ao recado sangrento.
Os detentos que lideraram a destruição das dependências do “Cadeião” estavam a serviço de gangues que tinham como objetivo colocar nas ruas bandidos perigosos, que aguardam julgamento e enquanto isso não acontece, deixam de seqüestrar, roubar cargas, assaltar, enfim, eles não promovem lucro. Não houve, portanto, pelo que fui informado, uma briga entre quadrilhas rivais. Os homens escolhidos para morrer nada sabiam nem tinham envolvimento com os “donos” da cadeia, que cobram de forma descarada e todo mundo sabe, pedágio de famílias humildes. Quando chega no presídio um acusado de crime leve, para ele não ser agredido, e às vezes até abusado sexualmente, é determinado um pagamento. É uma regra.
Os “donos” da cadeia queriam mesmo era expor cadáveres e chantagear ainda mais o Governo e a sociedade. Eles não se mataram entre si. Um dos escolhidos para o sacrifício foi um dos assaltantes que passou com uma Van sobre as pessoas assaltadas por sua gang em São Luiz do Quitunde. Esse foi queimado vivo.
Restam muitas perguntas, dentre eles como entraram as armas que foram usadas pelos bandidos quando do confronto. Dias atrás um grupo de esposas de detentos denunciou publicamente agressões aos presos. Semana passada um túnel foi descoberto no Cadeião. Por ele iriam fugir pelo menos metade dos 290 presos que estavam no local.
Tudo vem na seqüência. Se o cidadão que nunca matou, nunca roubou, aqui fora passa privações de toda ordem, inclusive no medo de ser atacado nas ruas, como podem os criminosos frios que promoveram a chacina e seus comparsas ousarem colocar ainda mais contra a parede a sociedade. O que eles querem afinal. Ar-condicionado, colchões ortopédicos, comida de primeira.
Deviam nos agradecer pelas três refeições que fazem, sem que seja preciso que eles movam uma palha. Pelo contrário, passam o dia inteiro – não todos - usando drogas e articulando crimes dentro das celas. Muita ousadia.

Postado por: Jeferson Morais
Fonte: Tudo na Hora